A professora do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP), egressa do curso de Jornalismo, Jozieli Cardenal Suttili, defendeu sua tese de Doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Pato Branco. Com o título “Cartografia decolonial da memória de gênero: resistências e mediações em histórias de vida de mulheres migrantes-pioneiras de Pato Branco (PR)”, sua tese integra a linha de pesquisa “Regionalidade e Desenvolvimento”, e contou com orientação da professora Dra. Hieda Maria Pagliosa Corona.
Jozieli explica que seu estudo refere-se a uma pesquisa etnográfica-cartográfica, desenvolvida a partir de histórias de vida de mulheres migrantes-pioneiras de Pato Branco, descendentes de italianos, alemães e ucranianos. O ponto de partida contempla o fluxo migratório e a expansão pioneira destinados à região Sudoeste do Paraná entre as décadas de 1930 e 1940, decorrentes da Marcha para o Oeste e da criação da Colônia Agrícola Nacional General Ozório (CANGO), durante o Estado Novo.
“Na busca por identificar como mulheres migrantes-pioneiras vivenciaram e resistiram a opressões sobre corpos e mentes decorrentes desse período sócio-histórico, por meio de entrevistas etnográficas mobilizei relatos de doze mulheres, a quais reconheço como recordadoras, para analisar colonialidades, mediações e resistências no processo de povoamento de Pato Branco. Como resultado, a tese apresenta um método cartográfico denominado de memória de gênero”, cita.
Para desenvolver sua tese, Jozieli percorreu conceitos-chave da epistemologia decolonial enquanto bússola teórico-metodológica, associando contribuições de dois autores para composição do método cartográfico: Jesús Martín-Barbero, que desenvolveu a cartografia dos mapas noturnos ao evocar o lugar da América Latina na relação dialógica entre mediações comunicacionais e culturais; e Ecléa Bosi, a partir de seus estudos sobre a manifestação da memória oral, individual e coletiva em histórias de vida.
“Como a cartografia que desenvolvi foi conduzida a partir de narrativas orais de mulheres idosas, meu principal insumo foi, justamente, a memória de mulheres migrantes-pioneiras. Ao unir Martín-Barbero e Ecléa Bosi na construção da cartografia da memória de gênero, não apenas criamos um novo mapa, mas também demonstramos a potência dessa união para desconstrução de silenciamentos muitas vezes legitimados pela história oficial”, explica.
Para Jozieli, além da proposição de um método cartográfico para pesquisas sociais, sua tese contribui para que histórias de vida de mulheres migrantes venham à tona, reconhecendo suas atuações no processo de constituição histórica das cidades, indo na contramão dos discursos que, muitas vezes, as reduzem a lugares de subserviência convencionados por normatizações patriarcais.
“Trata-se, portanto, de uma pesquisa que retrata uma geração de migrantes que vivenciou diferentes processos de apagamento histórico: mulheres oprimidas e silenciadas por normativas de gênero, uma vez que o grande protagonista das narrativas oficiais é o homem, branco e descendente de europeus. Em minha tese, demonstro que o trabalho das mulheres, dentro e fora de casa, foi fundamental para edificação das cidades, em que a perspectiva colonial-patriarcal também invisibilizou caboclos, caboclas e povos indígenas”, enfatiza.
“Como jornalista e egressa do UNIDEP, me vi inúmeras vezes durante a caminhada do Doutorado, pois mobilizei uma dupla que abrange o meu dia a dia docente e profissional: a memória e a entrevista. Sou grata à formação acadêmica e ao desenvolvimento construído nos últimos 17 anos, quando minha história com o UNIDEP iniciou, ainda como aluna. Se hoje aquela menina cheia de sonhos tem alcançado boa parte deles é porque teve acesso a uma educação transformadora. Que eu possa semear tudo que aprendi ao longo dessa jornada também aos meus alunos, bem como à sociedade”, completa Jozieli.
Trajetória
Jozieli é professora do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda do UNIDEP desde 2015, mestra e doutora em Desenvolvimento Regional pela UTFPR – Campus Pato Branco (2018; 2024). Egressa do curso de Jornalismo da Faculdade de Pato Branco (FADEP, 2010), hoje UNIDEP, possui pós-graduação em História, Arte e Cultura pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG, 2013) e pós-graduação em Docência no Ensino Superior (FADEP, 2018).
No UNIDEP, também é membro da Comissão de Pesquisa e responsável titular pela área de Ciências Sociais Aplicadas. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação, Cultura e Sociedade (GEPCOM-UNIDEP). Também coordena a Agência Experimental de Comunicação do UNIDEP (AÊ-UNIDEP). Na UTFPR, é membro do Grupo de Pesquisa ARIADNE – Rede de Estudos da Diversidade Social e Ambiental, ligado ao Centro de Pesquisa e Apoio ao Desenvolvimento Regional (CEPAD-UTFPR).
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Matéria: Agência Experimental de Comunicação do UNIDEP
Foto: Alan Winkoski, Agência Experimental de Comunicação do UNIDEP
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